sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Não consegui dormir


Não consegui dormir. Levantei da cama devagar, me desvencilhando dos braços dele para não acordá-lo. Peguei o celular que estava em cima do criado-mudo e fui até o banheiro. 4h47 da madrugada. Lavei o rosto e olhei fixamente para meu reflexo no espelho. Suspirei e voltei para o quarto. Observei o corpo seminu na cama, dormindo profundamente e dei um leve sorriso. Eu amava aquele homem de maneira intensa, igual as personagens idiotas dos livros que vez ou outra eu lia. Puxei uma cadeira para mais próximo da cama e sentei, olhando-o. O que existia era magnifico, mas sabíamos que aquilo duraria pouquíssimo tempo. Algumas imagens surgiram em minha mente. A primeira vez que nos encontramos e ele, meio tímido, depositou um leve beijo em meus lábios. Nossos sorrisos tão grandes, a felicidade exalando algum cheiro que tirou a atenção de todos. O momento em que entramos em sua casa e, longe da visão do mundo, ele me agarrou meio desesperado e me beijou intensamente. Não conseguimos dormir e ficamos acordados a noite toda conversando e aproveitando o tempo perdido...
Estava com lágrimas nos olhos. Não eram lembranças distantes e eu sabia que dentro de poucos dias todo o namoro adolescente, todo o desejo de se estar perto, todas as conversas que duravam horas e todos os beijos roubados no meio ou no fim de cada conversa se tornariam mais lembranças. Uma lágrima escorreu por meu rosto. Abandonei a cadeira e voltei para a cama. Vagarosamente me aconcheguei perto dele, fazendo-o acordar sem querer. Ele me olhou e deu um sorriso sonolento, puxando-me para mais perto. Senti sua respiração em minha testa e ele depositou um leve beijo nela. Pus a cabeça em seu peito e afastei da memória os pensamentos de antes. E me concentrei nele e no calor que sentia ao estar ao seu lado, ao sentir seu toque. Apaguei antes de me lembrar do dia em que nos conhecemos e das palavras que ele guardou para mim... “Teremos uma história muito feliz...”. Sim, nós temos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Repetir


Chovia forte. Minha calça já estava encharcada, minha meia afogada dentro do All Star, a camisa colada no corpo. Não liguei para esses detalhes, continuei seguindo meu caminho. O som do piano saindo dos fones e entrando em meus ouvidos e meus lábios se mexendo numa cantoria muda, falando cada palavra, cada letra que formava a música. Alguém passou por mim, esbarrando em meu ombro. A dor e a falta de um pedido de desculpas não tirou a atenção do meu caminho. A música se repetiu, trazendo uma enxurrada de lembranças. Junto da chuva, minhas lágrimas iam embora. Continuei andando, as pessoas me olhando de maneira estranha como se o fato de andar sem algo para me proteger da água que caia sem dó do céu fosse inimaginável. Eles não me conheciam e eu não devia satisfações a ninguém. O asfalto deu lugar a areia. Arranquei o sapato de meus pés e senti os grãos molhados entre meus dedos. Dei um sorriso triste. E a música repetiu mais uma vez. Olhei para as ondas que quebravam na praia, a chuva começando a ir embora. Joguei a mochila no chão, não sem antes tirar de dentro dela uma caixa onde guardava as melhores e mais tristes lembranças da minha vida. Voltei a andar, indo direto para a água. Estava morna. Caminhei até onde ela pairasse em minha cintura e então abri a caixa. Papéis, desenhos, objetos que guardava a sete chaves, longe da visão de todos, coisas de uma vida toda que sumiriam em poucos momentos. As lagrimas voltaram mais forte e num acesso de fúria, atirei a caixa longe, tudo se espalhando na água salobra. Mais uma repetição da música. Coloquei a mão em meu rosto tentando conter as lágrimas e sem pensar duas vezes, virei em direção a praia e caminhei. Sentei na areia vendo lembranças preciosas desaparecerem no horizonte. Agarrei minha mochila e soltei um grito contido. Respirei fundo tentando me acalmar de toda aquela fúria misturada à tristeza. Levantei quando a chuva retornou forte. Voltei a andar. A areia deu lugar ao asfalto. E a música repetiu-se novamente.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Chuva de lembranças


Ela segurou a xícara com as duas mãos, o calor aquecendo os dedos gelados. Olhou para a janela e viu as gotas sumindo rapidamente. E as lembranças vieram como numa enxurrada. O primeiro beijo que os fez rir por causa do nervosismo que sentiam, e todos os outros que vieram depois, todos os beijos calmos e os desesperados, todas as vezes que ela o mordia, fazendo com que ele a apertasse cada vez mais contra si. Lembrou-se dos suspiros que soltava sempre que o olhava, suspiros de uma pessoa perdidamente apaixonada.
Voltou a si de repente e sentiu raiva por lembrar daquilo. Tomou um gole do café e correu para a cozinha jogá-lo fora. Estava amargo e frio; horrível. Deixou a xícara na pia e respirou fundo. Andou vagarosamente até a sala e sentou perto da janela. A chuva ainda estava forte e as gotas na janela continuavam a sumir rapidamente. Mais lembranças de um passado pouco distante retornaram, vividas. O dia em que saíram para andar de patins e ele, sem pratica há muitos anos, caiu como uma criança, fazendo-os dar muitas gargalhadas. Lembrou quando viajaram de carro numa madrugada, sem avisar ninguém. Foram até uma praia quase deserta, brincaram como crianças jogando água um no outro e a noite, quando o vento gelado começou passar por eles, se abraçaram e se beijaram como dois amantes desesperados pelo calor. Passaram a noite acordados, conversando no carro sobre como as estrelas e a lua estavam bonitas, e ele dizendo como ela era bonita...
Percebeu que chorava. Sentia falta daqueles momentos e sentia falta dele em sua vida, da confiança que emanava para ela. E somente queria esquecer...

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Acordar


Hoje eu acordei necessitando de seu toque, com vontade de sentir tuas mãos acariciando meu rosto. Acordei querendo dizer o quanto preciso com urgência ver seu rosto ficando vermelho por causa de algo que falei, por causa do meu primeiro “eu te amo”. Que necessito de você sério quando os beijos ficarem desesperados. Que quero te encher com meu amor, até você não aguentar mais.
            Acordei e vi que não estavas ao meu lado. Vi que não me abraçava como todas as manhãs. Acordei sem teu sorriso matinal, sem o toque macio de sua pele, sem teus olhos grudados em mim. Acordei sem a sensação de ter inúmeros desenhos invisíveis espalhados pelo meu corpo, sem os arrepios que os leves beijos que depositavas todas as manhãs em meu pescoço me proporcionavam. Acordei sem o calor que seu abraço me fazia sentir.
Acordei e vi que tudo não passava de um sonho, uma mera imaginação. Acordei e vi que tudo o que eu sempre quis foi você dormindo ao meu lado. Hoje eu acordei e vi que você não existe na minha vida.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Chuva de lágrimas


Fantasmas antigos retornaram ontem à noite. Fantasmas que venho lutando a anos, ignorando-os por completo. Não consegui contê-los, eles foram mais fortes do que eu. E novamente caí em prantos, como uma misera criança. A pose de macho alfa caindo e mostrando a mulher frágil que existe, que sempre existiu escondida de tudo e de todos. Mas ontem não. Ontem minha máscara caiu, mas ninguém além de mim a enxergou. Prender a dor só piorou ainda mais a situação, não conseguia pensar com tanta coisa atolada em minha cabeça. E tudo por causa de gestos, de gostos, de música... Mas as lágrimas ainda persistem como numa chuva torrencial, me engolindo inteiramente, sem dó nem piedade. Elas não querem parar...
Você virou um fantasma que ainda me persegue. E eu te odeio por isso.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Olhos Fechados


Ela não quis abrir os olhos. Teve medo por pensar que, ao fazer esse gesto, tudo o que havia enxergado sumisse como as miragens do deserto. Manteve-se assim por vários minutos, até que sentiu o toque leve em seu rosto, e ela sabia que toda a reação de seu corpo, o arrepio de todos os seus pelos, o calafrio gostoso passando por sua espinha, era algo que desejava a tempos.
-Por que você não abre os olhos? - perguntou, a voz grave entrando como uma doce melodia em seus ouvidos. Ela continuou calada e sentiu a ponta dos dedos dele passearem lentamente pelos seus olhos. - Eu estou aqui e prometo que não vou embora. - sussurrou, a voz na base de seu ouvido. Toda a reação do corpo pequeno e frágil se intensificou e, lentamente, resolveu abrir os olhos. A visão do rosto dele foi esplendorosa. Ele a desejava de forma demasiada e seu olhar o condenava. Seu grande pecado... Naquele momento ela percebeu que nascera para ele e que nada poderia mudar o destino que lhe fora traçado antes mesmo de chegar ao mundo. Devagar, levantou a mão e tocou no rosto do amado, ainda sem acreditar que finalmente estava realizando vontades ocultas de longos anos. Ela mordeu o lábio inferior e o levou a loucura. Sem se aguentar mais, ele segurou-lhe pela nuca, puxando um pouco os fios soltos e roubou um beijo da boca que tanto cobiçara. Suas línguas se entrelaçando num doce ritmo desesperado. E, de repente, chegaram ao céu...

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Carta



Belém, 16 de agosto de 2012

Querido,
Ainda tenho pensado em você. Sei que não fui a melhor pessoa do mundo após tudo o que disse, mas estou tentando melhorar. Não deves conhecer meu histórico amoroso, onde eu só tive um relacionamento sério que não durou tanto tempo, o resto... não existe. Acho que por culpa desse fracasso eu tenha medo de me relacionar com alguém, tenha medo de dizer um verdadeiro “eu te amo”. Talvez seja por isso que me sinto tão mesquinha, ignorante, idiota e suja, porque eu te perdi mais uma vez por não ser forte, por usar das palavras -as quais sei utilizar tão bem- para ferir seu coração. E já fiz isso tantas vezes que me sinto um lixo que não pode nem ao menos ser reciclado. Só posso mais uma vez te pedir perdão por toda a merda que já falei e até entenderei se disser que não irá me perdoar, afinal, sei que mereço isso e mais, muito mais. 
Ainda te amo.                                                   

sábado, 4 de agosto de 2012

Tempo


Irei esperar alguns meses antes de tentar falar com você novamente. Aí quem sabe eu tenha um pouco mais de coragem e não sinta o medo que sinto agora. Vou esperar que o tempo passe e cure as mais recentes feridas que lhe proporcionei por ser mesquinha e uma completa idiota. Estou me programando desde já, mas tudo vai depender de quando voltar a falar com você. Tudo vai depender de suas respostas... Tudo vai depender se você ainda me amar como jurou amar desde o começo... Juro que dessa vez irei conter meu medo. Eu quero ver um sorriso nesse seu rosto.


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Salvation

Acreditam que os homens podem ser separados dos animais por sua racionalidade. Outros dizem que é a linguagem, ou o amor romântico, ou os polegares opositores. Viver neste mundo perdido me fez acreditar que há mais que biologia. O que nos torna humanos é a nossa implacável busca, ou desejo de imortalidade. Da busca por uma flor para um jardim à busca por uma teoria que abalará o mundo... Alguns procuram na morte o que não conseguiram vivos. Construindo tumbas elaboradas para proteger suas almas. Enquanto escrevo, imagino se alguém lerá isto. Talvez não. Mas se você ler, tudo que peço... é que lembre de mim.

(Ned Malone. 1x06)
The Lost World

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Passion

A paixão. Ela está presente em todos nós, adormecida, à espera. E, ainda que não seja desejada, que não seja procurada, ela entrará em ebulição, abrirá as suas mandíbulas e uivará. Ela fala conosco. Nos guia. A paixão nos comanda e nós a obedecemos. Que outra escolha temos?

(Angel. 2x17)
Buffy, The Vampire Slayer

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Diferenças


Ele tem que ser perfeito em sua imperfeição. Tem que me abraçar sem motivo, me beijar sem malícia e dizer que me ama quando realmente amar. Tem que aparecer na porta de casa e mandar eu me arrumar pra gente sair, e quando perguntar pra onde vai me levar, simplesmente dizer que é surpresa com um lindo sorriso. Me levar no cinema mais antigo da cidade pra ver um filme e depois para jantar. Tem que me arrastar para andar de patins e me fazer dar gargalhadas com suas caras e bocas. Tem que ser sarcástico e ter a cara mais cínica que eu já tenha visto. Tem que gostar de música, ser apaixonado por ela. Tem que gostar de mim com a mesma intensidade que eu goste dele e, principalmente, tem que ser taxado por todos como diferente, assim como eu sou. 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Mea Culpa


Gosto de vocês. É complicado dizer o que sinto, realmente complicado. Mas os dois são especiais, cada um com seus defeitos e qualidades e foi justamente isso que fez com que me interessasse. Só não posso escolher, não consigo. Então não me peçam isso, pelo menos não agora, não aqui. Vamos aproveitar esse momento sem culpa, sem pensar no que poderia acontecer ou não. Porque, como já disse, estou afim dos dois. O verdadeiro problema agora é o que nós vamos fazer?


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ela Mexe Comigo


Sabe qual é o pior de tudo? Saber que ela sempre vai estar lá, mas nunca vou poder tocá-la. Porque antes existia certa distância que era só em quilômetros, hoje já é em palavras. E isso me deixa triste, pois neste exato momento eu poderia estar ao seu lado, somente vendo-a dormir, somente admirando-a em toda a sublime beleza que ela simplesmente é. Agora só posso fazer isso: olhar fotos e ver como cresceu, como está cada dia mais bela, cada dia mais minha garota. Nem comentários eu posso deixar, porque ela saberia que minhas poucas palavras seriam vãs tentativas de expressar tudo o que vejo e que sinto. Porque ela saberia que ainda a amo como há cinco anos atrás...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Violoncello


-Essa música é dedicada a uma pessoa muito especial que se encontra aqui esta noite. Minha música favorita.
Você começou a tocar uma música romântica que não consegui descobrir de imediato. Adorava o jeito que tocavas violoncelo, fechando os olhos e sentindo a música surgir através de seus dedos. Te ver concentrado ao tocar era muito lindo. No refrão, você me olhou e abriu seu maior sorriso. “With or without you” dizia em sua parte principal, e eu me arrepiei ao perceber o que tocavas. Aquela era uma de minhas músicas favoritas e não somente pela linda letra, mas também por causa da melodia perfeita. Seus lábios começaram a se mover e vi que acompanhavas a melodia em tom mudo. “I wait for you”. Comecei a lagrimar e um leve arrepio passou por mim. Estavas tão lindo em sua roupa de gala e com o cabelo todo desgrenhado por ficar mexendo a cabeça com cada nota que tocavas, que eu começava a querer te arrancar dali e te roubar somente para mim. A música terminou e você levantou, curvando-se em agradecimento as palmas que te reverenciavam. Então se aproximou de onde eu estava e enxugou uma lágrima que escorria lenta em meu rosto.
-Foi lindo. – disse sorrindo e chorando ao mesmo tempo. – Foi perfeito.
Você sorriu e segurou minha mão, dando um leve beijo em meus lábios. E eu te segui, extasiada com sua bela declaração.


sábado, 16 de junho de 2012

Anjo


Vi um anjo.
Ela dava passos distraídos em minha direção e eu não sabia o que fazer. Fiquei paralisado com tanta beleza. Os cabelos claros balançando suavemente com a brisa da tarde, o rosto sem maquiagem revelando pequenos sinais graciosos na pele. Até que os lindos olhos verdes desse anjo me fitaram. E então me apaixonei perdidamenteSim, ela era um anjo. Sua voz doce era como o som de uma harpa harmoniosa em meus ouvidos e, quando ela me disse um pequeno e breve 'Oi', percebi que já a amava.
Oh, Deus! Que lindo anjo!
Quando ela sorriu, senti meu coração querendo sair pela garganta. As borboletas surgindo estranhamente em meu estômago, naquela sensação esquisita que nunca havia sentido. Aquele anjo era o retrato da mais bela perfeição. E ele começou a andar ao meu lado. Senti uma vontade louca de segurar-lhe a mão, mas me contive por medo de que esse gesto a afastasse dali. No momento seguinte, quis provar de sua boca e sentir os lábios macios de encontro aos meus, mas hesitei novamente por medo. Devia ao menos dito o que sentia naquele momento...
Porque como todo anjo ela simplesmente voou, deixando apenas a frágil lembrança de sua pele, de seus olhos e de seu sorriso magnífico.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ácida brancura


– Abra os olhos.  murmurou em meu ouvido, enquanto tirava as mãos de meu rosto. Minha vista, aos poucos, foi se adaptando à claridade do local. Estava em seu quarto e havia rosas brancas por todos os lados, o perfume magnífico espalhado pelo ambiente. Ele sabia que eu amava rosas brancas e que apenas uma única flor já deixaria meu dia feliz. Naquele quarto havia dezenas – dúzias, talvez  de buquês. Um belo sorriso misturado às lágrimas surgiu em meu rosto.
– Coisas especiais para pessoas especiais.  disse sorrindo.
Um gostoso arrepio percorreu minha espinha e foi impossível não beijá-lo. Então começamos a rir, como dois amantes em seu maior momento de felicidade.
– Obrigada, meu lindo.  agradeci radiante.  Obrigada por tudo. Obrigada por...

Então acordei. Minha vista, aos poucos, foi se adaptando à claridade do local. Aquele quarto – o meu quarto – parecia extremamente solitário. Respirei fundo, olhando para o teto. Não sei ao certo por quanto tempo fiquei assim, até que levantei da cama. Apenas para encontrar o homem que vagava em meus sonhos com outra pessoa...

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Naive


Foram dois meses que valeram como uma vida inteira. Aprendi a apreciar a música de maneira intensa, de um jeito que achei que nunca entenderia. Meu gosto musical foi definido, minhas escolhas foram definidas e, o principal, meu amor foi definido naquele tempo. Tão pouco tempo... Hoje só me restam as lembranças de uma época calma e sem preocupações, época que me fazia sorrir todos os meus mais belos sorrisos. E me pergunto se poderia ter feito mais, se a culpa foi minha de tudo ser tão diferente hoje em dia. Eu sei que fui ingênua...
Eu só o queria de volta: o tempo em que tudo era simples e perfeito. O tempo em que você segurava a minha mão e me protegia. O tempo em que não houveram beijos, mas os abraços valiam muito mais. O tempo em que eu te amava sem nem ao menos perceber.

Take me back to the place where I
Loved that girl for all time
Why must life just take away
Every good thing one at a time

The Kooks - I Want You Back

sábado, 7 de abril de 2012

Garota rock n' roll


Tênis All Star com cadarço vermelho, lápis preto no olho e o cabelo solto esvoaçando ao vento. Ela sorria enquanto batucava no volante do carro ao som de sua banda de rock favorita. Era cedo ainda e o sol estava nascendo. Ela colocou os óculos escuros depois de procurá-los na bagunça do porta-luvas e começou a cantar junto com a voz que gritava do alto-falante. Aquela era a vida que ela amava ter, sem tirar nem pôr. Fugiu da sociedade repressora em que vivia com apenas 15 anos. Decepcionou pai e mãe e pensou que um dia pediria desculpas. Nunca precisou. Tingiu o cabelo de vermelho, roxo, azul e agora voltara ao preto. Percorreu cidades procurando por adrenalina, por algo que a mantivesse viva. Se envolveu com pessoas erradas e conheceu um cara que parecia ser o certo mas, para a vida que ela tinha, não existem pessoas certas. Experimentou a boca de outra mulher e sorriu maliciosamente ao perceber como as mulheres conseguem se entregar a um simples beijo. Fugiu da polícia e gargalhou buzinando por horas, o efeito que a fuga lhe fizera. Bebeu até cair porre no chão e ser amparada por pessoas que não conhecia. Gritou que estava na estrada para o inferno e que adorava estar vagando nela há anos. Socou o nariz do cara que tentou abusá-la; beijou várias pessoas ao mesmo tempo; se perdeu no mundo para se encontrar no dia seguinte em seu carro com a banda de rock que mais gostava. Quase fez um pacto com o diabo, falou com mortos e o orou para que os deuses em que acreditava a perdoassem por todos os pecados que cometera e todos os que ainda iria cometer. Essa era a vida que ela tinha e que não largaria tão cedo. Essa era a vida da garota rock n' roll.

domingo, 1 de abril de 2012

Talvez


Talvez eu tenha cometido um erro. Talvez tenha errado ao te afastar, por me achar superior de uma maneira muito deturpada dentro de minha cabeça. Talvez eu seja imbecil o suficiente por achar que tudo pode voltar a ser normal, sem as brigas sem motivo ou sem a conversa de você ter mudado e amadurecido. Talvez não devesse ter te entregado aquele bilhete esperando que o universo conspirasse e você me mandasse algum sinal de vida dizendo que ainda me amava. Tolice. Talvez deva parar de te mandar mensagens esperando por respostas que nunca virão ou, se vierem, receber apenas respostas monossilábicas. Talvez eu deva parar de mentir para mim, de acreditar piamente em palavras e esperar que elas se concretizem.
Talvez deva parar de me apaixonar. Sim, eu preciso parar...
Talvez seja necessário jogar fora as cartas, os bilhetes, os desenhos, qualquer memória sobre as pessoas que amo e amei. Porque, no fim, o amor é sempre semeado de um lado apenas. E talvez as coisas melhorem se eu fizer isso, como quando eu joguei fora as lembranças de três anos atrás...
Talvez, realmente.

sábado, 31 de março de 2012

Aquela carta escondida


Acabei de ler a carta que escreveu para mim, provavelmente pela milésima vez. Lembra quando você a colocou em meu caderno? Encontrei o papel durante alguma aula chata, cerca de um ano atrás. Foi ali que percebi que você realmente me amava. E hoje sei o quanto relutei, o quanto tentei matar esse sentimento, o quanto fui idiota e te tratei mal. Agora apenas sinto sua falta, do seu sorriso sincero, do seu abraço caloroso e acolhedor que sempre me fazia bem, até mesmo dos selinhos roubados entre as aulas... E, infelizmente, você já afirmou que mudou o jeito de pensar e de agir com relação a mim, então não posso fazer mais nada. Sei que te perdi, que é tarde demais para tentar avivar qualquer sentimento seu por mim.
Agora percebo como a música que você me fez ouvir naquela tarde ensolarada realmente mostrava o que eu fazia com você, como deixava evidente o quanto eu brincava com seus sentimentos – e juro que realmente não percebia. Só me resta pedir perdão.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Miracula aeternitatis


"Aquilo que foi é como o que era.
E aquilo que era é como o que foi."


Olhares irresistíveis se cruzaram. Havia uma tensão pairando no ar e ninguém sabia o motivo. Somente ela. Os dois se aproximaram. Corpos em chamas e ele mal sabia: estava tão apaixonado pela mulher à sua frente que se tornou extremamente cego. Seus olhos só a viam: os cabelos ruivos, a boca pequena, a presença cada vez mais forte em qualquer cômodo que entrasse. "Sou sua..." era a única coisa que ouvia. Era só o que os tão delicados lábios avermelhados sussurravam. Eles se abraçaram e uma dança silenciosa os envolveu. Qualquer um diria que eram pessoas prestes a cometer adultério. E eram. Dois amantes sem outros parceiros. Amantes...
Ela o apertou contra o seio e esperou o homem ficar sem reação. Ele aspirou o doce cheiro que emanava dos cabelos desgrenhados e, com os dedos, passeou pelo braço dela até chegar ao pescoço. Aquela pele tão macia embaixo de seus dedos calejados... Aquela mulher cortejada por toda a sociedade que os rodeava – aquela patética sociedade  estava lá para ele. Acreditando que ela o pertencia.
"Sinto pena de você", pensava ela, acariciando-o também.

"O que está em cima é como o que está abaixo,
para realizar os milagres."


A tensão aumentou. Apertando-o ainda mais contra o peito, esperou que ele a beijasse. Não demorou para que isso ocorresse e ela se preparou. Quando percebeu que ele estava extasiado, retirou o punhal escondido em seu vestido e sorriu. A hora chegou. Então respirou profundamente e, murmurando palavras que ele não compreendeu, cravou-lhe a arma nas costas. Num primeiro momento houve apenas o susto, mas logo ele percebeu o acontecera. Traição. Pura e simples traição. E ele não conseguiu pronunciar nenhuma palavra. Sem se mover, ela esperou o corpo cair ao chão. O punhal em suas mãos delicadas e sujas de sangue. Com um sorriso malicioso, ela observou a vida o abandonar num último suspiro. Rondou o corpo, abaixou-se e tocou o rosto do homem, antes de tocar o lugar em que o apunhalara. Ainda com o sorriso, saiu do recinto, deixando para trás aquele corpo sem vida.

"O que está abaixo é como o que está acima,
para realizar os milagres."

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Quem sabe?


Sabe o motivo de pedir sua ajuda em matemática? Bem, não foi por dificuldades na matéria ou algo do tipo, só queria te conhecer melhor. Você é incrível, talentosa e extremamente... linda. Acho que não tinha como não me apaixonar. É, estou perdidamente apaixonado por você e acho que todos os idiotas que puderam te conhecer tanto ou mais do que eu te conheço são tremendos imbecis. Porque você é perfeita em toda a sua imperfeição. Porque o jeito que você olha para baixo quando está com vergonha, como nesse momento, e sorri esse sorriso tímido é magnífico. Você é a garota mais atraente que conheci em toda a minha vida...
Me perdoa, mas vou ter que te beijar agora.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Filmes antigos


Eu corri.
Não como nos filmes antigos em que a linda mocinha corre em direção ao seu amado, mas desesperada e desamparada. Entrei na loja mais próxima e fui para o fundo dela. Acho que não me dei conta de onde estava, porque sentei no chão e escondi minha cabeça entre os joelhos por estar chorando. E não notei o tempo passar. Quando finalmente levantei os olhos, percebi que estava no meio das toalhas, praticamente escondida. E meu coração palpitou mais ainda quando olhei para o lado e te vi com uma expressão que misturava felicidade e tristeza.
 Antes que me pergunte,  começou.  estou aqui desde que você chegou.
Disfarcei um sorriso e te olhei preocupada.
 Mas e o seu trabalho?  minha voz saiu mais embargada do que pensei que estivesse.
– Estava saindo quando vi você entrar e praticamente se esconder aqui.
Baixei os olhos para meus pés e tentei esconder o sorriso que surgia por notar o quanto você se importava.
– Obrigada. – murmurei.
Você sorriu e me abraçou carinhosamente. Pela primeira vez senti o seu toque, naquele abraço que tentava me confortar. As lágrimas sumiram imediatamente, dando lugar à calma que emanava de você. Então todos os pensamentos se esvaíram e apenas a surpresa e a ansiedade ficaram ali.
A palpitação em meu peito estava tão alta que você deve ter escutado, não duvido. Porque ali eu tive a confirmação: estava apaixonada e nunca havia notado. A felicidade de falar com você e todo o nervosismo ao saber que provavelmente te encontraria, sempre foram os sinais que teimei em compreender. Agora eu compreendo. Comecei a sorrir feito uma adolescente boba ainda em seu abraço.
– Está melhor? – perguntou depois de um tempo, segurando meu rosto com as duas mãos.
– Acho que sim. – respondi, ainda com os olhos baixos.
– Menina, por que você nunca me olha direito?
Tenho absoluta certeza que fiquei extremamente vermelha porque você começou a rir. E novamente perdi a noção do tempo. Lembranças do que havia ocorrido voltaram numa enxurrada, ao mesmo tempo em que lembrei de quanto te conheci, das vezes em que você me olhou com um sorriso e das vezes em que brigávamos de brincadeira.
E quando voltei a mim e entendi o que estava acontecendo, notei que você me beijava de um jeito tão carinhoso, que apagava todo o motivo do choro de minutos atrás. Então as borboletas no estômago começaram a trabalhar e me levaram às nuvens em poucos segundos.
Ao se afastar, você me olhou e começou a rir novamente.
– Você realmente está vermelha.
E dessa vez eu não escondi o sorriso, só porque ainda estava delirando com seu beijo repentino.
– Você é louco... – foi a única coisa que consegui dizer naquele momento.
– Bem,  disse olhando o relógio. – acho bom nós irmos embora, já está ficando tarde. – e você levantou, me puxando em seguida.
Começamos a caminhar em direção a saída da loja quando você segurou minha mão num gesto inocente e me olhou carinhosamente com um lindo sorriso.
– Não chore mais, minha linda.
E eu sorri. Igual naqueles filmes antigos em que a mocinha fica com seu príncipe no final e vive feliz para sempre. Era assim que eu me sentia...
Feliz por finalmente estar com você.