quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O fato de desejar

Meus pés ficaram gelados rapidamente. Lágrimas começaram a surgir de meus olhos. Meu coração disparou. Não havia motivo para tanto, eu sabia disso. Mas mesmo assim não consegui me conter. Li cada palavra como se fossem as últimas, desejando que o fim não estivesse explícito, pois não aguentaria tanto. Olhei o ponto - que não era o ponto final - e senti uma mistura de sentimentos me invadir. Ódio, saudade, tristeza... Vontade de responder com alguma palavra suja e com significado torpe. Não fiz isso. Apenas chorei, igual aos outros dias em que chorava por causa de lembranças. O vento levou meu cabelo até os olhos e pequenas mexas ficaram presas em minha bochecha, no rastro que as lágrimas deixavam. Sorri meu pior sorriso. Deitei-me na cama e virei o rosto para a parede branca do quarto, as lágrimas não me deixando em paz. Então respondi sinceramente. Não podia inventar mais mentiras, porque aos poucos elas estavam me matando. Adormeci depois de responder. Não lembro que horas eram ou até mesmo o dia. Só lembro que desejava não ter aquela conversa, desejava não ter aqueles sentimentos, desejava apenas poder respirar aliviada mais uma vez...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Imaginar


Já me imaginei com você em mil e uma situações. Conversando cara a cara sobre futilidades e comendo besteira, deitados numa rede só vendo o tempo passar, olhando em seus doces olhos enquanto você sorri envergonhada, roubando beijos em momentos inesperados. Já imaginei nosso primeiro encontro, a timidez tomando conta de ambos, nosso primeiro beijos nos fazendo rir e saindo perfeito só quando a calma se estabelece entre nós. Já te imaginei cantando num karaokê alguma música que dedicas a mim, uma daquelas que te mostrei tempos atrás. Já vivi e revivi milhões de beijos, suas mordidas, o jeito que segura minha mão sem me olhar e todos os olhares bobos e apaixonados que surgem do nada. Já sonhei conosco passando uma noite inteira acordados, falando das aventuras vividas em tão pouco tempo de vida, ou dos seus casos que me deixam enciumado mas que não demonstro. Já te imaginei chegando com alguma camisa nerd e com um lindo sorriso, e então você diz meu nome, aliviada com o encontro. Já imaginei seus dedos macios passeando por meu rosto, sua voz doce dizendo que me ama, fazendo-me ficar completamente enrubescido. Já nos vi sozinhos no quarto, você cantando pra mim, no meu show particular, todas aquelas músicas que remetem a nós, a você e eu, nossos olhares se cruzando e evidenciando aquela louca vontade de largar tudo e somente nos beijarmos... Aquela louca vontade de te ter logo aqui comigo.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Óbvio


Eles andavam de mãos dadas, conversando e sorrindo. Chegaram até o fim do caminho, onde havia um pequeno palco a céu aberto, então ela teve uma ideia e sorriu, puxando-o pela mão até o banco, fazendo-o sentar. Andou até o palco e pôs-se de pé para que todos a vissem.
-Bom início de noite, senhoras e senhores. Que lindo pôr do sol, não? Melhor ainda se você estiver acompanhado de alguém e apaixonado por essa pessoa. E eu posso dizer isso com plena certeza. Amor... O que é isso se não a certeza de estar sempre protegido? Nós humanos temos medo daquilo que pode fracassar, é natural. Temos medo de nos apaixonar, de ser magoado pelo outro e até de magoar esse outro. Mas aí encontramos alguém. E esse alguém te promete o mundo somente com o olhar, promete te fazer a pessoa mais feliz da face da Terra e você acredita. E aos poucos, - ela saiu do palco e foi em direção a ele, fazendo o gesto de pegar seu coração, entregando em suas mãos. – você entrega o que tem de mais precioso para essa pessoa. Porque sabe que ele pode cuidar tão bem quanto você cuida. – e sorriu, voltando ao lugar de onde saíra. – E por mais que essa pessoa diga que não pode fazer nada disso, você apenas sabe... Apenas sabe que quer passar a vida inteira com ela...
As pessoas começaram a aplaudir e ela se curvou, agradecendo a todos por ouvi-la. Desceu do palco e olhou para ele, que falava com um homem qualquer que partiu quando ela se aproximou, sem antes parabeniza-la. Ele segurou sua mão e voltaram a andar como dois namorados completamente apaixonados.
-O que aquele senhor lhe disse? – perguntou sorridente. Ele começou a ficar vermelho e a puxou para um lugar vazio, somente para beijá-la carinhosamente. Ela sabia que quando ele agia assim, era porque queria esconder a vergonha que sentia no momento.
-Você ainda continua vermelho. – riu. – O que ele disse pra te deixar assim?
-Pra eu nunca te perder... Porque igual a você não vou mais encontrar. – respondeu-lhe.
-Homem sábio. – falou rindo mais ainda. Então ela o beijou mais uma vez e disse que o amava. Ele passou os dedos pelo rosto macio e sorriu envergonhado. E em seu coração, afirmou o óbvio: que também a amava.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Somente o tempo


Ele não ficou. Após ter feito com que eu me apaixonasse perdidamente, ele resolveu se ausentar depois de um simples pedido meu: que ficasse presente. Eu sabia que o futuro era incerto, eu sabia que muita coisa poderia acontecer, mas fui egoísta comigo mesma e pedi. As conversas que duravam quase o dia inteiro, a minha luta para ficar acordada muitas noites somente para conversarmos, os sorriso e gestos afundaram-se na areia movediça do tempo. Ainda me recordo dos primeiros dias quando disse-lhe que meu erro era sempre me jogar sem preocupar com o chão e ele disse que não me deixaria cair nunca. Nos últimos dias o discurso já era outro, ele já não queria me deixar pular. Só que eu já havia pulado há bastante tempo. E nesse momento cheguei ao chão e a dor foi terrível. Naquele dia não houve fim estabelecido em palavras. Houve somente o tempo... O tempo da ausência. E esse foi o fim.