quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Confissões de uma amiga


Ela estava sozinha quando você apareceu. A vida era um completo caos e nada fazia sentido. Para ela, somente o tempo iria amenizar tudo de ruim que acontecera. Você deve tê-la salvado de algo. Bem, é pouco provável...
Ela sabe que não é a pessoa perfeita que você tanto esperou, mas é alguém que sempre cuidará de você, alguém que fará qualquer coisa que estiver ao alcance para ver um simples sorriso em seu rosto. Porque ela ama seu sorriso, até mesmo o mais discreto. Mas talvez o amor que ela sente  será que é amor?  deva ser sufocado. Dizem que é só focar nos defeitos da pessoa que se gosta que você passa a odiá-la. E ela me disse que está fazendo isso e começando a te odiar. Um ódio que cresce e se equipara ao mesmo amor que ela ainda teima em sentir... E ela não sabe mais o que fazer em relação a isso.
Eu sei que ela é especial. Ela vê nas pessoas o melhor de cada uma e mostra para o mundo tudo o que encontra. É uma visão de mundo completamente diferente do que estamos acostumados. E, sinceramente, eu a admiro. Acredito que você devia fazer o mesmo. 
Quem ela é? Acho essa informação é irrelevante. Talvez seja minha amiga, um alter ego ou os dois. Mas suas confissões, o que ela pensa, fala ou faz, são coisas que qualquer ser humano faria. Ou qualquer ser humano que ainda não amadureceu.
O mundo só quer enxergar beleza. E ela sempre vê além disso.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Você


Você acorda e percebe que não deveria ter aberto os olhos naquela manhã. Sente que as coisas continuarão dando errado e tenta dormir novamente. Vã tentativa. Se mexe na cama várias vezes até que desiste e levanta. O banheiro parece distante e escuro, mas você caminha confiante e escancara a porta, ligando a torneira e jogando água no rosto para acordar completamente. O dia, nublado, condiz com seus pensamentos ao acordar. "Pegue aquela lâmina", eles dizem. Uma luta invisível é travada dentro de sua cabeça, até que ela é vencida  pelo menos aquela batalha foi  e então desce para tomar café.
Ela não está mais lá para fazer seu café. Parado, olha para a cafeteira e lembra do sorriso que ela sempre lhe lançava, o sorriso mais lindo que vira em toda a sua existência... Para em seguida recordar das lágrimas que caiam dos olhos dela na última vez que a vira. Você balança a cabeça negativamente e faz seu café, descontente. Arruma-se para ir ao trabalho e sai com o carro. A rua está deserta, mas você nem nota que não há nenhuma alma viva caminhando. Ninguém. E então, praticamente no meio do caminho, depois de quase meia hora de viagem, lembra que é feriado e, portanto, não haverá expediente.
– Meu Deus...  murmura para si mesmo, entredentes.
Você respira profundamente e retorna para casa, por um caminho diferente. Era ela que estava em seu pensamento. O tempo parou de trabalhar depois que ela se foi e só deixou lembranças que invadem a cabeça sem nenhuma introdução de que isso irá acontecer. De maneira vivida, recorda do dia em que chegou em casa depois do trabalho e a viu retirando todas as coisas do armário. O vestido vermelho  que você tanto censurou, mas que adorava secretamente por contrastar com a pele branca e macia que ela tinha  jogado numa das malas. As lingeries que ela usava para seduzir e que você amava tirá-las devagar nos momentos entre quatro paredes.
E as lágrimas novamente.
Você sente vontade de chorar ainda no carro, mas afasta qualquer pensamento que deixe aquele nó horrível na garganta. Finalmente estaciona em casa e, com má vontade, entra e caminha automaticamente para o quarto. A presença dela parece cada vez mais viva ali dentro, mas você não consegue se desfazer de nada. Absolutamente nada.
No quarto, o corpo inerte cai na cama e você esconde o rosto no travesseiro. E, ali, as lágrimas começam a cair descontroladamente. Depois de muito tempo, desde que ela se fora, você se permite fazer isso.
Então o sono vem, em meio às lágrimas e à saudade de sua esposa.

domingo, 25 de setembro de 2011

Diva


Mila tratava-me muito mal.
Não fazia ideia do porquê, mas também nem queria saber, porque senão o sofrimento seria maior. Sentia uma dor imensa, mas não era dor que somente dói; era dor que dói, que arde, que não tem cura, que nunca sara.
Na festa na casa dos Souza ela apareceu, mas logo que me viu foi embora. Antes, veio falar-me com arrogância e, por incrível que pareça, não me espantei. Ela já havia me tratado muito, mais muito pior.
Convidei-lhe para dançar, queria tocar-lhe, sentir seu cheiro, sentir seu corpo... Ela apenas olhou-me com desprezo, do alto de seu pedestal, e foi-se embora sem responder-me. Paulo ainda ficou na festa, perguntei-lhe por qual motivo Mila agia dessa forma, mas nem ele sabia responder. Disse-me para ter calma, mas calma era o que eu menos tinha.
Afinal, não sabia o que fazer. Estava tão apaixonado que não tinha sono e nem fome. A única coisa que me alimentava era esse amor doentio e impossível. Todas as noites em claro, serviam-me para refletir e pensar em tudo que estava acontecendo, contudo nunca chegava em uma conclusão concreta.
Por mais que eu tentasse esquecê-la, por mais que eu tentasse olhar para outras mulheres, não conseguia. Acho que esse era o meu castigo pelo erro de amá-la e desejá-la demasiadamente...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Menina perdida


Lembro de estar no mesmo local de todas as quintas-feiras, onde sempre me encostava na mesma árvore frondosa. O cheiro daquela árvore me incomodava, mas ficava ali porque aquele era seu aroma favorito. Lembro de segurar sua mão, enquanto conversávamos sobre coisas inúteis, coisas que remetiam ao nosso passado, coisas que me faziam sentir felicidade. Eu olhava no fundo de seus olhos, pedindo veemente que me beijasse. Talvez você nem percebesse esse pedido silencioso, mas compensava acariciando meu rosto de uma maneira que mais ninguém sabia fazer.

Você levantou e me puxou junto. Ficamos em pé e quando percebi, estava de encontro ao teu peito. Teu cheiro delicioso invadiu minhas narinas e embaçou minha mente, fazendo com que eu não pensasse em absolutamente mais nada. Teu queixo se apoiou em minha cabeça e você respirou fundo, relaxando os músculos enrijecidos. Então notei que algo estava errado. Não sei ao certo o que deixou tudo claro, se foram os seus beijos carinhosos em todo meu rosto – da maneira graciosa que só você sabia fazer – ou se foram as lágrimas que vi logo em seguida, ainda tímidas, abandonarem seus olhos.

Aquela era a despedida. A dor ficou confusa dentro do meu peito, pois não sabia se estava triste por te ver chorar ou porque você ia embora. Para sempre.

Então o desespero bateu instantaneamente e as lágrimas que brotaram dos meus olhos começaram a rolar. Incontroláveis. Você pediu para que eu me acalmasse, o que era impossível. Até que você me beijou. Nosso último beijo, completamente misturado às lágrimas de nós dois. E quando você se afastou, naquele singelo momento, eu realmente notei o quanto você me amava.

Quando dei por mim, o lugar onde suas mãos estavam esfriou. Sua boca já não tocava mais a pele de meu rosto. Seu queixo já não pousava no topo de minha cabeça. E você já estava longe de mim, correndo por aquela trilha no bosque, sem olhar para trás nenhuma vez. Sem ver que eu estava perdida.

Sem ver que eu era somente uma menina perdida sem você.