sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Dedos entrelaçados

As luzes da sala se apagaram e senti você aproximar a carteira ainda mais de mim, o que fez meu coração acelerar ao notar que estávamos praticamente grudados um no outro. Apenas fingi que nada tinha acontecido e continuei olhando para o professor que arrumava no computador um vídeo qualquer sobre a aula de hoje. Minhas mãos pousavam sobre a mesa, uma delas segurando uma caneta na tentativa de anotar os principais pontos do vídeo que o professor achava crucial para o entendimento daquele assunto, quando você puxou essa mesma caneta da minha mão, fazendo com que eu finalmente olhasse em seu rosto. Você sorria um sorriso tão caloroso que imediatamente fez meu rosto corar. Graças a Deus pelas luzes apagadas. Colocando minha caneta na própria orelha, você segurou minha mão e começou a acariciar meus dedos. "Sua mão é tão macia...", sussurrou enquanto colava o ombro no meu, desviando o olhar para nossos dedos entrelaçados. Você se achegou ainda mais em mim, enquanto o vídeo começava na tela projetada a frente e eu tentava desesperadamente acalmar meu coração. Por Deus, eu conseguia ouvir e sentir as batidas malucas dele na minha própria orelha. E se eu sentia, você provavelmente também. Ficamos de mãos dadas o resto da aula, você acariciando cada dedo meu como se estivesse descobrindo uma coisa totalmente nova, como se cada carícia em minhas mãos fossem as primeiras que você fez em uma garota desde que entrou na puberdade. O vídeo terminou depois de quase meia hora e o professor acendeu as luzes, mandando todos voltarem para seus devidos lugares. Com um suspiro, você puxou minha mão para próximo de sua boca e respirou profundamente, sentindo meu cheiro antes de dar um simples beijo de adeus, olhando para meu rosto logo em seguida. Eu sorri tão boba, tão envergonhada, tão apaixonada... E você sorriu de volta, retornando a carteira para a fila indiana que ficava ao lado da minha.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Ponto final

Essa semana, aquela playlist aleatória que ouço de vez em quando começou a tocar a primeira música que você me enviou quando disse que estava apaixonado. Uma enxurrada de lembranças percorreu meus pensamentos durante mais de uma hora. Não quis lutar contra minhas vívidas memórias, porque eu sabia que seria uma vã tentativa. Apenas me deixei levar nos momentos mais lindos que vivi com você, nas palavras gravadas à ferro em minha mente e nos sorrisos que vi tantas vezes, mas que gostaria de ter visto muito mais...

Então reli os textos que escondi de todos, naquela pasta dentro de zilhões de outras pastas que estão salvas na nuvem; textos que escrevi na mesma época em que você apareceu na minha vida e, de repente, sumiu como se nunca tivesse existido. Como se nós nunca tivéssemos existido. Palavras desconexas formando lembranças e todos os desejos malucos de estar com de você. Palavras doloridas que apresentavam - e ainda apresentam - toda a tristeza por não entender como era possível você sumir sem falar absolutamente nada; sem uma explicação ou um fim propriamente dito.

E esse seu silêncio me dói até hoje.

Talvez um dia você encontre esse texto e entenda que eu preciso de um ponto final. Que eu preciso, nem que seja uma última vez, ouvir seu sorriso. Para em seguida entender o motivo de tudo ter terminado do jeito que terminou.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Manhã chuvosa

Major

Acabei de lembrar de um dia chuvoso, uns bons anos atrás, ainda na época da escola. Engraçado como nossa mente ama pregar peças - das mais estranhas, às vezes. Lembro que acordei com muita preguiça, mas eu sabia que era necessário levantar e estudar. Nunca fui o tipo de estudante que se recusava a ir para a escola. Gostava daquele ambiente, por incrível que pareça, então me sentia bem. Adorava aprender e conversar com várias pessoas…

Naquele dia chuvoso, te encontrei na porta da escola, nossos guarda-chuvas se juntando para que pudéssemos nos abraçar, mesmo que timidamente. Você segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Falou alguma coisa engraçada, que não lembro agora, e dei a minha risada mais gostosa. O frio da chuva foi substituído imediatamente pelo calor que emanava de você e da sensação de te ter ali comigo, daquele simples toque nos meus dedos e do modo como você me fazia rir com tanta facilidade. Se dependesse de mim, aquele momento se repetiria mil vezes, um loop eterno nos prendendo no meu momento de maior felicidade naquele ano.

Se você soubesse como aqueles simples gestos significaram muito mais pra mim do que os beijos que você se recusou a me dar, nunca os teria feito. Nunca teria feito meu coração dar cambalhotas ou meu estômago se encher de borboletas com a possibilidade de nos jogarmos naquele amor adolescente que já transbordava dentro de mim.

Queria que você tivesse me amado como eu te amei...