sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Não consegui dormir


Não consegui dormir. Levantei da cama devagar, me desvencilhando dos braços dele para não acordá-lo. Peguei o celular que estava em cima do criado-mudo e fui até o banheiro. 4h47 da madrugada. Lavei o rosto e olhei fixamente para meu reflexo no espelho. Suspirei e voltei para o quarto. Observei o corpo seminu na cama, dormindo profundamente e dei um leve sorriso. Eu amava aquele homem de maneira intensa, igual as personagens idiotas dos livros que vez ou outra eu lia. Puxei uma cadeira para mais próximo da cama e sentei, olhando-o. O que existia era magnifico, mas sabíamos que aquilo duraria pouquíssimo tempo. Algumas imagens surgiram em minha mente. A primeira vez que nos encontramos e ele, meio tímido, depositou um leve beijo em meus lábios. Nossos sorrisos tão grandes, a felicidade exalando algum cheiro que tirou a atenção de todos. O momento em que entramos em sua casa e, longe da visão do mundo, ele me agarrou meio desesperado e me beijou intensamente. Não conseguimos dormir e ficamos acordados a noite toda conversando e aproveitando o tempo perdido...
Estava com lágrimas nos olhos. Não eram lembranças distantes e eu sabia que dentro de poucos dias todo o namoro adolescente, todo o desejo de se estar perto, todas as conversas que duravam horas e todos os beijos roubados no meio ou no fim de cada conversa se tornariam mais lembranças. Uma lágrima escorreu por meu rosto. Abandonei a cadeira e voltei para a cama. Vagarosamente me aconcheguei perto dele, fazendo-o acordar sem querer. Ele me olhou e deu um sorriso sonolento, puxando-me para mais perto. Senti sua respiração em minha testa e ele depositou um leve beijo nela. Pus a cabeça em seu peito e afastei da memória os pensamentos de antes. E me concentrei nele e no calor que sentia ao estar ao seu lado, ao sentir seu toque. Apaguei antes de me lembrar do dia em que nos conhecemos e das palavras que ele guardou para mim... “Teremos uma história muito feliz...”. Sim, nós temos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Repetir


Chovia forte. Minha calça já estava encharcada, minha meia afogada dentro do All Star, a camisa colada no corpo. Não liguei para esses detalhes, continuei seguindo meu caminho. O som do piano saindo dos fones e entrando em meus ouvidos e meus lábios se mexendo numa cantoria muda, falando cada palavra, cada letra que formava a música. Alguém passou por mim, esbarrando em meu ombro. A dor e a falta de um pedido de desculpas não tirou a atenção do meu caminho. A música se repetiu, trazendo uma enxurrada de lembranças. Junto da chuva, minhas lágrimas iam embora. Continuei andando, as pessoas me olhando de maneira estranha como se o fato de andar sem algo para me proteger da água que caia sem dó do céu fosse inimaginável. Eles não me conheciam e eu não devia satisfações a ninguém. O asfalto deu lugar a areia. Arranquei o sapato de meus pés e senti os grãos molhados entre meus dedos. Dei um sorriso triste. E a música repetiu mais uma vez. Olhei para as ondas que quebravam na praia, a chuva começando a ir embora. Joguei a mochila no chão, não sem antes tirar de dentro dela uma caixa onde guardava as melhores e mais tristes lembranças da minha vida. Voltei a andar, indo direto para a água. Estava morna. Caminhei até onde ela pairasse em minha cintura e então abri a caixa. Papéis, desenhos, objetos que guardava a sete chaves, longe da visão de todos, coisas de uma vida toda que sumiriam em poucos momentos. As lagrimas voltaram mais forte e num acesso de fúria, atirei a caixa longe, tudo se espalhando na água salobra. Mais uma repetição da música. Coloquei a mão em meu rosto tentando conter as lágrimas e sem pensar duas vezes, virei em direção a praia e caminhei. Sentei na areia vendo lembranças preciosas desaparecerem no horizonte. Agarrei minha mochila e soltei um grito contido. Respirei fundo tentando me acalmar de toda aquela fúria misturada à tristeza. Levantei quando a chuva retornou forte. Voltei a andar. A areia deu lugar ao asfalto. E a música repetiu-se novamente.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Chuva de lembranças


Ela segurou a xícara com as duas mãos, o calor aquecendo os dedos gelados. Olhou para a janela e viu as gotas sumindo rapidamente. E as lembranças vieram como numa enxurrada. O primeiro beijo que os fez rir por causa do nervosismo que sentiam, e todos os outros que vieram depois, todos os beijos calmos e os desesperados, todas as vezes que ela o mordia, fazendo com que ele a apertasse cada vez mais contra si. Lembrou-se dos suspiros que soltava sempre que o olhava, suspiros de uma pessoa perdidamente apaixonada.
Voltou a si de repente e sentiu raiva por lembrar daquilo. Tomou um gole do café e correu para a cozinha jogá-lo fora. Estava amargo e frio; horrível. Deixou a xícara na pia e respirou fundo. Andou vagarosamente até a sala e sentou perto da janela. A chuva ainda estava forte e as gotas na janela continuavam a sumir rapidamente. Mais lembranças de um passado pouco distante retornaram, vividas. O dia em que saíram para andar de patins e ele, sem pratica há muitos anos, caiu como uma criança, fazendo-os dar muitas gargalhadas. Lembrou quando viajaram de carro numa madrugada, sem avisar ninguém. Foram até uma praia quase deserta, brincaram como crianças jogando água um no outro e a noite, quando o vento gelado começou passar por eles, se abraçaram e se beijaram como dois amantes desesperados pelo calor. Passaram a noite acordados, conversando no carro sobre como as estrelas e a lua estavam bonitas, e ele dizendo como ela era bonita...
Percebeu que chorava. Sentia falta daqueles momentos e sentia falta dele em sua vida, da confiança que emanava para ela. E somente queria esquecer...

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Acordar


Hoje eu acordei necessitando de seu toque, com vontade de sentir tuas mãos acariciando meu rosto. Acordei querendo dizer o quanto preciso com urgência ver seu rosto ficando vermelho por causa de algo que falei, por causa do meu primeiro “eu te amo”. Que necessito de você sério quando os beijos ficarem desesperados. Que quero te encher com meu amor, até você não aguentar mais.
            Acordei e vi que não estavas ao meu lado. Vi que não me abraçava como todas as manhãs. Acordei sem teu sorriso matinal, sem o toque macio de sua pele, sem teus olhos grudados em mim. Acordei sem a sensação de ter inúmeros desenhos invisíveis espalhados pelo meu corpo, sem os arrepios que os leves beijos que depositavas todas as manhãs em meu pescoço me proporcionavam. Acordei sem o calor que seu abraço me fazia sentir.
Acordei e vi que tudo não passava de um sonho, uma mera imaginação. Acordei e vi que tudo o que eu sempre quis foi você dormindo ao meu lado. Hoje eu acordei e vi que você não existe na minha vida.